O velho rádio de pilha de ‘mesa’, como diria minha mãe, era o móvel mais sofisticado da residência de um trabalhador rural. Ficava postado na mesa principal da casa. A mesma que era utilizada para a família fazer as refeições. O rádio Semp, quatro faixas, como era conhecido pela marca.
Não conto as vezes que invadi a madrugada ouvindo futebol na rádio Globo do Rio de Janeiro. Hora por outra tirava um cochilo encostado na mesa e acordava ao som do grito dos gols narrados pelas vozes mais marcantes do rádio brasileiro: Valdir Amaral e Jorge Cury; depois veio José Carlos Araújo.
Ah! E a rádio Sociedade da Bahia com o show do Cláudio Amaral; a Nacional da Amazônia com Edelson Moura; Brasil Central de Goiânia. Nos sábados, no programa do Édimo Zarif, na Globo do Rio, tinha as vinte músicas mais tocadas da semana. Lembro-me que o hit, I just Called To Say I Love You, de Stevie Wonder, passou mais de dez semanas como a mais tocada. Depois vieram Loiras Geladas, do grupo RPM; Caminhoneiro, de Roberto Carlos, e tantas outras. Em nível regional, como posso esquecer a Difusora de Picos e a Grande Serra de Araripina-PE. José Elpídio, Erivan Lima e Augustinho Hipólito, na primeira; Nelson Lopes e o seu ‘Campeonato Musical’, na segunda.
Ainda tinha a rádio Pioneira de Teresina. Só era possível sintoniza - lá até as oito da manhã. Depois as ondas fugiam. Quando o meu pai decidia viajar para Picos, acendia o candieiro ás 4 da madrugada, ligava o rádio e eu meio sonolento, ficava a ouvir Chitãozinho e Xororó: “..um pedacinho dela que existe. Um fio de cabelo no meu paletó’’.Quanta saudade.
Foto: Rocílio Rocha
Crônica: O Velho Rádio de Pilha.
Fonte:Livro de crônicas: Sorria, enquanto é tempo! De Francisco de Assis Sousa.