sábado, 14 de maio de 2011

Fogão a lenha

            
        Ainda no escuro ouvia o barulho da caixa de fósforos, em seguida uma pequena tocha de fogo ajudava os primeiros raios do dia a iluminar a casa. Acendia a lamparina, som da lenha dobrando-se no joelho. Assoprava a cinza e o laranja tonalizava o rosto, braços, projetando a sua sombra na parede preta de fumaça. Gravetinhos de lenha ajudavam acender o fogo, marmita de café, a colher arranhava o fundo da lata á procura das últimas pedrinhas de açúcar. Os galos, cabeça-vermelha, juriti, coqui, rolinhas, sofrê entre outros pássaros cantarolava anunciando a chegada do sol. O café quentinho estava pronto enquanto ''arriava'' a vaca. Lá fora parecia tudo maravilhoso, a vida nascia, tinha o dia todo pela frente. 
        O calor do fogo me lembra reunião, proteção, alimentação, além de aquecer a casa e preparar a comida.  Quase toda alimentação passava pelo fogão a lenha: milho assado, milho cozido, café, leite, arroz, feijão, carne, queijo...
        De tanto ir e vir na minha bicicleta azul o mundo não me assustava e a cena daquelas manhãs ao pé do fogão a lenha pareciam eternas.
       Hoje percebo que andei pouco, mais por onde andei a vida me levou depressa, mais rápido do que a bicicleta azul. Porém muitas coisas passaram despercebidas: flores, cobras e lagartos, mais sempre abro a janela e me vejo ao lado do fogão a lenha com cores laranja no seu rosto. 
                                                        Fotos e texto: Rocílio Rocha

7 comentários:

  1. Cenas como esta retrata de forma bem clara o que um dia já foi a vida no campo.Hoje com a chegada da modernidade, pouco se ver nas casas do sertão. Estas cenas demonstra o amor e o carinho que o autor da foto tem pelas coisas do sertão.As pessoas deixaram de lado este costume, esta tradição, de usar o fogão de lenha como um instrumento de consumo. Como sou do campo, sei o valor que tem esta cena, as brasas, as labaredas, carne assada na brasa, asa cinzas após um dia queima da lenha, a comida tão gostosa, o cheiro da fumaça...Por isso, parabenizo Rocilio, que apesar de viver na cidade, não esquece as tradições nordestinas, e por resgatar a vida do homem do campo. Parabéns

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  2. Eu nem sei o que dizer. Rolo a seta e olho olho olho...uma imagem mais linda que a outra. Tem foto que penso (por Deus!), que foi tu que pintou. Com as do Ipê roxo (rosa). Bem que vc podia me chamar quando achasse uma florada assim, de qualquer árvore. Eu iria correndo fotografar contigo.

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  3. Rosa, seria a realização de um sonho fotografar com vc, pense como fiquei feliz com a ideia.

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  4. paulo henrique de sousa26 de janeiro de 2012 às 16:25

    também me familiarizo com estas suas declarações, quando eu ia pra casa do meu avó bié ( dormir na casa dele, só para acordar cedinho e tomar aquele café quentinho), tempos bons que não voltam atrás, mas voçe está aqui para nos fazer relembrar esses momentos inesqueciveis...vlw

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  5. Como diria Roberto,'essas recordações me matam'.E você ,leitor da alma, vida, do passado ,disse tudo o que eu vivi e gostaria de dizer!Lindo texto!Parabéns!

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